JOIAS DO ASÉ: Sobrevivência, transcendência e etnogeometria relacionados à sua produção na comunidade Casa do Boneco de Itacaré

Autores

Palavras-chave:

Etnogeometria, Cultura, Saber e fazer, Ancestralidade, Ethnogeometrics, Culture, Knowing and Acting, Ancestry

Resumo

Resumo

As diferentes civilizações desenvolveram formas de contar, registrar, modelar, organizar suas coisas em conformidade com as demandas do cotidiano, estruturando saberes e tecnologias que caracterizaram sua etnomatemática. O presente artigo é um recorte da pesquisa realizada na comunidade Casa do Boneco de Itacaré, que resultou na dissertação de Mestrado do Programa de Pós Graduação em Educação Matemática da UESC - PPGEM e teve por objetivo responder quais são os diferentes significados das Joias do Asé na perspectiva da Etnomatemática. Ancorados nos pressupostos do Programa de Pesquisa em Etnomatemática do professor Ubiratan D’Ambrosio e nos instrumentos metodológicos da Etnogeometria de Paulus Gerdes descrevemos o artefato, identificando elementos de um pensamento geométrico que constrói sua forma espacial refinada (curvas em hélice, trançadas e o helicoide) a partir de procedimentos que articulam formas planas comuns (circulares, faixas retangulares e triangulares). Ao descrevermos a maneira como esse pensamento geométrico se desenvolve na confecção dos colares detalhamos como se articulam malhas, movimentos e raciocínios sobre representações planas. Ao discutirmos os resultados com vistas a responder o problema de pesquisa, buscamos evidenciar a existência de um saber fazer matemático intimamente relacionado às práticas culturais daquela comunidade, vislumbramos elementos de sobrevivência e transcendência em suas atividades ancestrais.

Abstract

Different civilizations have developed ways of counting, registering, modeling, organizing the demands of daily life, structuring their knowledge and the technologies that characterize their ethnomathematics. The present paper reviews part of a research carried out in Casa do Boneco in the community of Itacaré, which resulted in a Postgraduate Program dissertation in Mathematical Education at UESC – PPGEM that aimed to answer the different meanings of the Jewelry of Asé using Ethnomathematics. Based on the Ethnomathematics Research Program assumptions and the methodological instruments of Ethnogeometry by Paulus Gerdes and according to Professor Ubiratan D'Ambrosio we describe the artifact, identifying elements of a geometric thought that builds a refined spatial form (curves in helix, braided and the helicoid) from procedures that articulate common flat shapes (circular, rectangular and triangular bands). Describing how this geometric thought develops during the making of collars, we detail how knits, movements and reasoning are articulated on flat representations. In order to answer the research problem, we seek to evidence the existence of a mathematical know-how closely related to the cultural practices of that community, we picture some elements of survival and transcendence in their ancestral activities.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

José C. Ferreira, Instituto Federal de Educação, Ciencia e Tecnologia Baiano

Mestre em Educação Matemática pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus, Bahia, Brasil. Professor Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), Coordenador Núcleo de Estudos Afro Brasileiros e Indígenas (NEABI), Instituto Federal de Ensino, Ciência e Tecnologia Baiano (IFBAIANO), Campus Uruçuca, Bahia, Brasil. Email:  jose.ferreira@ifbaiano.edu.br

Marcos Rogério Neves, Universidade Estadual de Santa Cruz

Doutor em Educação (área Ensino de Matemática e Ciências), Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) – Brasil. Professor adjunto - área de Matemática Departamento de Ciências Exatas e Tecnológicas (DCET) Universidade Estadual de Santa Cruz – Brasil. Email: marcos_neves@uesc.br

Referências

Anton, H., Bivens, I., & Davis, S. (2007). Cálculo. Vol. II. 8ª Ed. Porto Alegre: Bookman.

Braga, Julio. (1995). Na Gamela do Feitiço: Representação e resistência nos Candomblés da Bahia. UFBA. Salvador: EDUFBA.

Carmo, S. S. (2012). Balangandãs: Joias de crioulas dos séculos XVIII e XIX e suas Ressignificações na contemporaneidade. (Dissertação de mestrado). Centro de Artes, Humanidades e Letras – Faculdade de Museologia. UFBA. Cachoeira.

Casa do Boneco de Itacaré (2014, outubro, 19). Recuperado de: http://casadoboneco.blogspot.com.br/p/casado-boneco.html.

Casa do Boneco de Itacaré (2010). Encarte Fazenda Quilombo D’Oiti – roteiros e produtos, turismo de base comunitária. Itacaré.

Costa, I. H. (1995). Ifá – O Orixá do Destino: O jogo de ôpón e do Opêlê Ifá. São Paulo: Icone.

Costa, W. N. G., & Silva, V. L. (2011). Matemática do negro do Brasil. Revista Scientific American Brasil . Etnomatemática.

DUETTO. Edição Especial 35(02), 78-82, ISSN 1679522-9.

Coulon, A. (1995). Etnometodologia; tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Petrópolis: Vozes.

D’Ambrosio, U. (1990). Etnomatemática – Arte ou técnica de explicar e conhecer. São Paulo: Ática.

D’Ambrosio, U. (2005). Etnomatemática: O elo entre as tradições e a modernidade. 2ªed. 1ªreimp. Belo Horizonte: Autêntica.

D’Ambrosio, U. (2008). O Programa Etnomatemática: uma síntese. Revista Acta Scientiae, 10(1), 7-16.

Garfinkel, H. O. (1967). Que é etnometodologia? Tradução de Adauto Villela. Studies in ethnomethodology (pp. 1-341) Cambridge: Polity Press, 1996. Cap. 1.

Gerdes, P. (1996). Etnomatemática e Educação Matemática: uma panorâmica geral. Revista Quadrante, 5(2), 5 - 36.

Gerdes, P. (2011). Mulheres, Cultura e Geometria na África Austral: Sugestões para pesquisa. Maputo, Moçambique: LULU.

Gerdes, P. (2012). Etnogeometria: Cultura e o despertar do pensamento geométrico. Sugestões para pesquisa. Maputo, Moçambique: LULU.

Gerdes, P. (2014). Geometria Sona de Angola: estudos comparativos. Maputo, Moçambique: LULU.

Kalenga, Múleka-ditoka Wa. (1989). Kissolo, modelo africano de máquina para predição e processamento de informações. (Tese Doutorado). Escola de Comunicação e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Knijnik, G. (2004). Itinerários da Etnomatemática: questões e desafios, sobre o cultural, o social e o político na educação matemática. In G. Knijnik, F. Wanderer, & C. J. de Oliveira, (Orgs.). Etnomatemática, currículo e formação de professores (pp. 19–38). Santa Cruz do Sul: EDUNISC.

Lody, R. (2010). Joias do Axé: fios de conta e outros adornos do corpo: a joalheria afro-brasileira. 2ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil.

Morin, E. (1996). O problema epistemológico da complexidade. Rio de Janeiro: Publicações Europa-América

Morin , E. (2005). Ciência com consciência. Rio de janeiro: BERTLAND.

Rosa, M., & Orey, D. C. (2010/2011). Ethnomathematics: the cultural aspects of mathematics. Revista Latinoamericana de Etnomatemática, 4(2), 32-54.

Sangrini, M. (2009). Da fenomenologia à etnometodologia -Entrevista com Kenneth Liberman. Revista Scientiæ Studia, São Paulo, 7(4), 669-679.

Santos, B. S. (2006). A Gramática do Tempo: A ciência, o direito e a política na transição paradigmática. 2ª ed. São Paulo: Editora Cortez.

Santos, B. S. (2010). Um discurso sobre as ciências na transição para uma ciência pós-moderna. Estudos avançado. São Paulo, 2010. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141988000200007. Acessado em: 01 de julho de 2014.

Watson, R., & Gastaldo, E. (2015). Etnometodologia e Análise da Conversa. Petrópolis: Vozes; Rio de Janeiro: PUC-Rio.

Thomas, Jr., G. B., Weir, M. D., Hass, J. R., & Giordano, F. R. (2009). Cálculo. Vol. II. São Paulo: ADDISON WESLEY.

Xavier, A. S., Malpasso, A., Bernardo, A.S.S., & Cevallos, R.D.L.P.

(2014). Orunmilá como sistema complexo: Aplicação dos conceitos de complexidade e caos nos Jogos de Ifá. Anais do SIALA, 5(5), Salvador: UNEB.

Publicado

2017-12-23

Como Citar

Ferreira, J. C., & Neves, M. R. (2017). JOIAS DO ASÉ: Sobrevivência, transcendência e etnogeometria relacionados à sua produção na comunidade Casa do Boneco de Itacaré. Revista Latinoamericana De Etnomatemática, 10(3), 59-77. Recuperado de https://revista.etnomatematica.org/index.php/RevLatEm/article/view/431