Vírus vêm em vão: uma alegoria da pan-escola que (não) virá
DOI:
https://doi.org/10.22267/relatem.20131.42Palavras-chave:
Pan-escola, Práticas culturais, Problematização terapêutica, Educação matemática escolar desconstruída.Resumo
Neste artigo, desenvolve-se uma alegoria terapêutica em torno do problema da educação (matemática) escolar, lidando com ele como uma pandemia. O vírus mutante que a provoca causa vários sintomas vistos como crenças-imagens cristalizadas que se manifestam persistentemente desde o início dos processos modernos de escolarização: a febre disciplinar, que desfigurou e transformou práticas culturais em conteúdos verbais fixos; a febre epistêmico-mentalista, que transformou os jogos de linguagem entretecidos em formas praxiológicas de vida em saberes em si, independentes das linguagens e das gramáticas ético-políticas que as orientam, o que levou a uma distinção doentia entre saber-em-si e saber-fazer com os signos de uma linguagem; a ilusão de atemporalidade e o vício determinista, que impediram de se ver as práticas de se lidar com fenômenos considerados aleatórios como práticas matemáticas, e ambas como práticas que se constituem entretecidas em diferentes formas de vida, o que impediu a educação (matemática) escolar de problematizar diretamente – isto é, sem a mediação de óculos disciplinares – as práticas culturais que se realizam em diferentes formas de vida. Possíveis modos de se lidar com essa pandemia são pensados em um quadro pós-pandêmico imaginário em que a escola poderia se transformar em uma pancomunidade virtual voltada à problematização terapêutica de diferentes formas de vida e das práticas culturais que nelas se realizam, visando ao propósito de se formar guardiões de formas democráticas, solidárias, igualitárias e não-racistas de organização das vidas em diferentes formas de vida. Nessa pan-escola que (não) virá, a educação matemática desconstruída passa a ser vista como um conjunto de jogos de linguagem orientados por propósitos normativos, cujos efeitos e afetos nem sempre desejáveis e previsivelmente controláveis sobre as vidas e as formas de vida se abrem igualmente à problematização bioético-política.
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