Etnomatemática na encruzilhada da descolonização e recolonização do conhecimento

Resumo

O objetivo deste artigo é discutir algumas concepções de etnomatemática e os caminhos percorridos pela pesquisa etnomatemática contemporânea. Nesse contexto, na primeira parte são apresentadas duas concepções: uma considera a etnomatemática como uma produção de conhecimento dentro de uma própria racionalidade indígena; a outra tem como referência a matemática ocidental: a etnomatemática aparece aqui como uma modalidade folclórica dessa matemática considerada universal. Na segunda parte, são exploradas duas vias contemporâneas de pesquisa em etnomatemática, uma de cunho mais antropológico, que visa estudar a “matemática” dos grupos culturais, e a outra, de cunho mais pedagógico, que tenta levar em conta conhecimento indígena na aprendizagem escolar. Argumenta-se que entre as contribuições que a etnomatemática pode dar estão sua capacidade de permitir que diferentes culturas se reconheçam genuinamente e sua capacidade de mostrar a natureza e os limites das concepções em jogo. Mais importante ainda, a etnomatemática pode servir como um local privilegiado para se tornar ciente das relações políticas e de poder que muitas vezes operam sub-repticiamente nas relações e posições entre culturas. Nessa linha de pensamento, o artigo se encerra com uma discussão sobre a dimensão política na qual a etnomatemática está inserida e que coloca a etnomatemática na encruzilhada da descolonização e da recolonização do conhecimento.